Artigos

Vocação: chamado de Deus para todos

Para entendermos a Vocação, devemos saber que o significado etimológico dessa palavra é “chamado” (vocare, do latim), o que também está em consonância com o sentido de Igreja, que também é “chamado” (ek -klesia, kaleo, do grego). Logo, a vocação é sempre um chamado, mas um chamado que se direciona para a comunidade, para o bem comum, o que também salienta bastante o Papa Francisco, e a Teologia Latino-americana.

Percebemos que, biblicamente, o chamado sempre aconteceu em uma realidade concreta. Moisés vivenciou um contexto específico, com uma história conturbada: filho de hebreus, na iminência de perseguição, criado junto ao faraó, estrangeiro (Ex 1, 22-2, 25). Nesse meio foi chamado por Deus para libertar seu povo (Ex 3, 1-12). Judite e Ester, mulheres, viúvas, sem papel de destaque em sua época, também mostram seu chamado feminino particular para fazer a diferença no mundo (Rt 1,14-17; Jt 8,1-36). Jonas mostra que o chamado e a ação de Deus superam as vontades humanas (Jn 1,1-3; 4,1-2). Oséias viu, no contexto do seu casamento, o amor de Deus pela humanidade, apesar de seus erros (Os 3, 1; 4, 1-3; 14,2-9). Maria, não só aceita o chamado de Deus, como também nos abre caminho para o verdadeiro discipulado de Cristo: ela O acompanha desde antes do Seu nascimento (Lc 1,26-38), até Sua morte (Jo 19,25-27), e depois (At 1,12-14).

O Código de Direito Canônico também prescreve a importância de cada fiel na construção do Reino (Cânones. 204-207). Como batizados, somos responsáveis por ser profetas, reis e sacerdotes, ou seja, por levar o amor e a justiça divina onde pessoas sejam oprimidas e marginalizadas, a exemplo dos personagens bíblicos que citamos acima e, sobretudo, de Jesus Cristo, edificando Seu Reino na fé, na esperança e na caridade (1Ts 5,8).

Assim, podemos dizer que o chamado de Deus, a vocação é para todos os fiéis e todos os homens de boa vontade que escutam no mais íntimo de si uma voz que chama a dar de si algo a mais, como alguém que encontra um tesouro e vende todas as outras riquezas para possuir somente ele, pois vale a pena (Mt 13, 44-52). Cada um tem seu chamado, que descobre, não fugindo da realidade em que se vive, mas ouvindo o que ela quer dizer, discernindo o que ela espera, bem como os profetas, Jesus, e muitos outros santos homens e mulheres fizeram.

Por fim, o que falar da vocação agostiniana? Tendo por base, primeiro, o Concílio Vaticano II, buscamos seguir mais fielmente Cristo, ser um braço da Igreja no mundo, seguindo o carisma de nosso Pai Agostinho, atentos aos sinais dos tempos em que vivemos (PC 1219- 1224), não nos esquecendo de nossa proposta mais profunda e segunda base, as Constituições da Ordem de Santo Agostinho: vivermos nossa interioridade através da oração e dos estudos; nossa fraternidade por meio da vida comum; e o apostolado, tanto e sobretudo dentro da comunidade, quanto nos serviços pastorais (Constituições II, 16-39).

Frei Davison Bertuce, OSA

6 jul
Compartilhe:
Mapa do Site