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Vivendo sob a graça divina

 

Aproximamo-nos do fim de mais um ciclo de nossa vida: o fim do ano. Como todos os outros anos, nos colocamos diante de Deus para agradecer e reprogramar as nossas vivências para uma nova etapa de vida. O advento nos enche de paz e de esperança para resgatar o melhor de cada um de nós a partir da graça divina de Deus e do esforço pessoal que nutrimos frente à sua palavra de vida.

Santo Agostinho nos incentivava a este exercício cristão de encontro com Deus e com os irmãos: “Eleve seu coração para que ele não apodreça na terra. Este é conselho d’Aquele que não deseja destruir, mas salvar. Você não se perderá enquanto ele estiver dirigido ao céu sem tirá-lo da terra.” Sermão 60, 7. Assim sendo, ter os nossos sentidos voltados a este Deus que busca realizar a sua graça através de cada um de nós deve ser o motivo de nossa reflexão de advento. Uma reflexão que não pode tirar o foco da “terra”, ou seja, da nossa humanidade e das necessidades de nossos irmãos.

A nossa fraternidade é a expressão maior deste desejo de Deus em encarnar-se no meio de nós. Ele se faz irmão de todos, para que tenhamos os mesmos sentimentos que Ele, e deste modo, possamos construir uma fraternidade que ultrapas se as fes tas e comemorações de fim de ano e se instalando no coração das relações humanas.

“Dediquemos às causas de Deus um amor íntegro e ao próximo um amor vigoroso. Façamos pelos outros o que pudermos. Ofereçamos aos necessitados o que é abundante para nós.” Sermão 41, 9. Este é o convite da espiritualidade de Santo Agostinho: nos dedicar aos nossos irmãos como a expressão da nossa dedicação a Deus. O homem, em sua limitação, reconhece que existem algumas coisas que dependem da graça divina, porém todo o restante que pudermos fazer por nós mesmos, e pelos demais, devemos realizá-lo. Não como obrigação, lamúrias e sacrifícios, mas como filhos livres de Deus que, sob a graça divina, assume a missão de discípulos e missionários de um amor perene que atravessa todo os dias do ano.

Este exercício de fraternidade deve ser realizado nas pequenas coisas da vida, como Agostinho recorda aos seus contemporâneos: “Até mesmo o pobre tem algo que pode dividir com os outros. Que empreste os pés aos aleijados, que outro se torne olhos do cego, um outro visite um doente ou enterre um morto. Essas são coisas que todos podem fazer. Amenize a carga do outro e estará seguindo a Lei de Cristo.” Sermão 47,9 O exercício da caridade não passa somente pelos bens materiais, mas também pelos bens espirituais que vamos construindo ao longo da vida. Esta partilha de bens se constitui no desejo de estar junto a Deus, e que obrigatoriamente, implica também em estar respondendo aos apelas de toda humanidade.

Novamente um ciclo de vida se encerra com o fim deste ano. As festas, celebrações e presentes apenas são reflexos de uma fraternidade que devemos buscar ao longo de um novo ano que se inicia. Lembrar-se que a convivência com os irmãos reflete a nossa inquietude em estar próximos de Deus, e de sua vontade, não pode ser ignorada por nós. Como Agostinho de Hipona no Sermão 184, 3, nos lembra: “Suas graças são perfeitas; e Ele não hesitou em confiá-las a cada um de nós.” E por que não viver sob a graça de Deus, junto aos nossos irmãos, ao longo de todo ano que se aproxima?

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA

12 dez
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