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Quarentena Quaresmal na expectativa da Quarentena Pascal

O Tríduo Pascal é o centro de todas as celebrações litúrgicas da vida da Igreja: celebramos a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao celebrarmos a Páscoa de Jesus, diariamente, semanalmente e anualmente, damos sentido a toda a nossa vida. Também vivemos as dores e prazeres, alegrias e tristezas, enfermidade e saúde, vida e morte, em ritmo pascal, com pequenas mortes e pequenas ressurreições, até o dia definitivo de nossa ressurreição e da ressurreição do mundo.

São quarenta dias antes do Tríduo Pascal (Quaresma) e quarenta dias depois do Tríduo Pascal (Tempo Pascal). Santo Agostinho nos oferece uma bela reflexão sobre o sentido da Quaresma e o Tempo de Louvor: “Neste período quaresmal vivemos os nossos dias que simbolizam as fadigas do tempo presente, nos jejuns e na observância quaresmal, não resguardando a própria vida; o período que virá simboliza o tempo futuro. Ainda não estamos lá; eu, de fato, disse ‘simboliza’ e não ‘será’. Até a paixão, portanto, é tempo de penitência; depois da ressurreição será o tempo de louvor” (Sermo 211/A).

Nesta Quaresma estamos experimentando uma verdadeira “quarentena quaresmal”: a epidemia do Covid-19 (coronavírus) fez o mundo, de certa forma, parar. Houve desde alarmismos, com informações inverídicas, até banalização irresponsável do fenômeno, inclusive da parte de altas autoridades. A sociedade civil, principalmente, se mobilizou para conclamar os cidadãos/ãs a exercerem, mais que nunca, a cidadania: todos somos responsáveis e cada qual deve fazer sua parte. Esse cuidado com a coletividade revela-se como uma autêntica obra de misericórdia.

A Quaresma prepara para a Páscoa. Como será a Páscoa desse ano? Templos vazios? Celebrações só pelas mídia? Mesmo que os templos se fechem, a Igreja não fechará, pois a Igreja somos nós, Povo de Deus a caminho.

De toda forma, vivemos uma grande expectativa, com certa apreensão: o pico da pandemia no Brasil acontecerá em abril, Semana Santa compreendida. Muitas pessoas, infelizmente, viverão esta paixão, literalmente (não nos esqueçamos de tantas outras paixões dos esquecidos!). Certamente neste ano teremos que continuar em quarentena. Será então uma “quarentena pascal”. E a vida continuará, será mais forte que a morte.

 Quem crê não se desespera, pois a “esperança nunca decepciona” (Rom 5,5). Será uma vez mais a oportunidade de continuarmos a ver os que sofrem, sentir compaixão e deles cuidar! Pois a Campanha da Fraternidade não é só do tempo quaresmal, é do ano inteiro, para que seja verdadeiramente tempo pascal. Vida pascal samaritana, sempre!

Que a presença do Senhor Ressuscitado nos fortaleça no caminho. Feliz Páscoa, minha irmã, meu irmão!

 

Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial

12 abr
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