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Promoção vocacional e formação

“Vem e segue-me”. (Mt 19,21)

A origem da vocação encontra-se na iniciativa Divina.
Deus chama, com sua graça, aqueles que Ele quer,
 para uma missão ou serviço.(III Congresso Vocacional do Brasil)

 

A Pastoral Vocacional e a formação para a Vida Religiosa e Sacerdotal tornaram-se instrumentos de grande valor para a Igreja nas últimas décadas, principalmente após o Concílio Vaticano II, quando, pelo impulso do Espírito Santo, a Igreja, aberta ao mundo em suas transformações, foi assumindo um novo ardor missionário e evangelizador. Já em 1964, o Papa Paulo VI instituiu o Dia Mundial de Oração Pelas Vocações. No Brasil, a missão da Igreja após o Vaticano II, com sua voz profética nos tempos da ditadura militar (1964-1985), sua presença esperançosa no meio dos pobres e excluídos, sua opção preferencial pelos jovens à luz da Conferência de Puebla, sua preocupação em organizar as comunidades de base (CEBs), possibilitando que a Palavra de Deus iluminasse a realidade sofrida de nosso povo e ajudasse a organização popular por meio de movimentos sociais e eclesiais na busca de seus direitos. Neste contexto pós Concilio Vaticano II, muitos religiosos(as), sacerdotes, bispos, missionários(as) e evangelizadores leigos se tornaram um exemplo de compromisso com a construção do Reino de Deus, no aqui e agora de nossa história, tornando-se referência vocacional de seguimento a Jesus Cristo.

Neste contexto, a Pastoral Vocacional foi alcançando um lugar de destaque em nossa realidade eclesial e pastoral. Recordemos que no ano de 1983 celebrou­-se em todos os cantos e recantos da Igreja no Brasil, o primeiro ano vocacional. Quem não se recorda ou nunca rezou a oração vocacional criada para aquele ano: “Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: “Vem e segue-me”? Posterior a este período, seguiu-se uma etapa avaliada como sendo de crise vocacional, com significativa diminuição do número de sacerdotes e religiosos(as) e diminuição da vinda de missionários estrangeiros, fruto das mudanças nos diversos contextos da sociedade e da cultura pós-moderna. A crise vocacional, iniciada neste período, trouxe o fechamento de muitas casas e obras mantidas por Ordens e Congregações. Por outro lado, houve uma recuperação no número de vocações masculinas nos países do hemisfério sul, principalmente nos continentes africano e asiático, principalmente as vocações diocesanas. A crise se fortaleceu e é mais sentida, em nossos dias, no hemisfério norte (Europa, EUA, Canadá...), naqueles países tidos anteriormente como grandes celeiros de vocações e de tradição religiosa, de onde partiram muitos missionários(as) em tempos passados.

Vinte anos depois do primeiro ano dedicado às vocações, em 2003, celebrou-se o Segundo Ano Vocacional no Brasil, com o tema: “Batismo, fonte de todas as vocações”, e o lema: “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5,4). Nós Agostinianos da agora nova Província Nossa Senhora da Consolação do Brasil (naquele momento, Vicariato Nossa Senhora da Consolação), vivemos intensamente esses momentos da caminhada da Igreja no Brasil e na América Latina após o Vaticano II, sempre identificados com as Diretrizes da Evangelização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com as orientações da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e da Conferência dos Religiosos da América Latina (CLAR). Durante este período, alguns de nossos Frades estiveram inseridos em Comissões e Diretorias destes organismos da Igreja, demonstrando a comunhão e a sintonia com os novos rumos da Evangelização. Em outros momentos desta caminhada, nosso processo formativo e o trabalho na promoção e animação de novas vocações esteve integrado com outros grupos de Agostinianos e Agostinianas do Brasil. Realizamos experiências de apoio e intercâmbio com outros grupos agostinianos na América Latina, em especial, por cerca de quinze anos, apoiamos o trabalho vocacional e formativo no Vicariato da Bolívia, estivemos por oito anos apoiando a nova presença agostiniana em Cuba e recentemente colaborando num projeto comum de formação no Peru.

Nos últimos anos, o trabalho da Pastoral Vocacional de nossa Província ganhou força e estabilidade, contando com um maior apoio institucional e investimentos econômicos, pedagógicos e metodológicos, assim como, com uma colaboração e envolvimento mais efetivo e constante de nossos formandos e religiosos. Fruto deste trabalho e do testemunho de vida fraterna e comunitária, da acolhida, criatividade, dedicação e zelo para com aqueles que o Senhor da Messe nos confiou, desde o ano 2008 houve um aumento no número de vocacionados acompanhados e de ingresso de candidatos em nossa etapa inicial de formação. Foi possível acompanhar jovens de regiões mais distantes do país e inclusive realizar anualmente encontros na região nordeste e visitar jovens e promover atividades em outras regiões. O ano de 2010 foi um marco para a formação, quando chegamos a ter quarenta e oito jovens em nossas casas de formação. Abriu-se uma nova casa de formação em Belo Horizonte, a Fraternidade Santa Mônica, que acolheu a etapa do Aspirantado até o ano de 2017. Atualmente, a Fraternidade Agostiniana, no Bairro do Barreiro, em Belo Horizonte, é a casa de formação que recebe os jovens para o Aspirantado, Postulantado e Pré-noviciado (Estudos de Filosofia).

Após dez anos de intercambio e apoio de nosso Vicariato ao Teologado de Cochabamba - Bolívia, em 2011 retornamos para a cidade de Diadema, na região metropolitana de São Paulo, onde de 1988 a 1998, mantivemos nosso Teologado, na Fraternidade Santo Dias, região periférica e de grande número de operários. Nos anos de 2009 e 2010 o Teologado esteve provisoriamente na cidade de São Paulo. A Etapa do Noviciado, após quase três décadas funcionando sequencialmente em Bragança Paulista (SP), em 2015 passou a ser realizada em conjunto com outros países da América Latina, sendo a sede na cidade de Lima - Peru, onde continua até os dias de hoje, sendo que o primeiro mestre de noviços deste projeto comum de formação era de nosso Vicariato.

Sabemos que o investimento na formação é um caminho importante para fortalecer nossa presença hoje e no futuro na Igreja do Brasil, após estes noventa anos de caminhada e história. Por isso, olhando para o futuro, atentos aos sinais dos tempos e às mudanças na cultura e na Igreja, o Capítulo Vicarial realizado em dezembro de 2018, criou o Secretariado de Animação Vocacional e Juvenil, estruturando e dando novo impulso e dinamismo ao trabalho com as juventudes e as vocações.

O ano de 2019 se tornou um marco histórico de nossa presença no Brasil, pois ao celebrarmos noventa anos da chegada dos Agostinianos do Escorial (Espanha), o Capítulo Geral Ordinário celebrado em Roma, no dia 16 de setembro elevou nosso Vicariato à categoria de Província, dando novo vigor e ardor missionário e fortalecendo nossa responsabilidade e compromisso na formação de futuros religiosos que promoverão o carisma e a espiritualidade agostiniana no Brasil e continuarão a obra evangelizadora, educacional e assistencial herdada de tantos religiosos, desde os pioneiros que chegaram a partir de 1929 e não tiveram medo de arriscar suas vidas e se colocaram à serviço da Igreja no Brasil, até os atuais religiosos que com dedicação e zelo apostólico e o testemunho de fraternidade, possibilitaram a credibilidade, confiança e reconhecimento que conduziu à criação da Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil.   

Somos conscientes dos grandes desafios que se apresentam para o trabalho da Evangelização e para a Formação de novos religiosos e sacerdotes. A mudança de época que estamos vivendo, com grandes transformações na cultura, na religião, nas instituições que antes eram tidas como sólidas: Família, Igreja, Política, Sociedade, bem como uma mudança de paradigma relacional com o advento e fortalecimento das tecnologias de informação, mídias sociais e meios de comunicação globalizados. Cientes de que o Senhor chama os que Ele quer e de onde quer, neste novo contexto da realidade humana, social, religiosa e cultural que vivemos, é necessário uma boa preparação para ler os sinais dos tempos, uma centralidade e um cuidado da vida espiritual, um testemunho de coerência e fidelidade vocacional, uma vivência dos valores do  Reino de Deus, um compromisso com os grandes temas que atingem a humanidade, entre eles a desigualdade social e o cuidado dos mais pobres e vulneráveis, o cuidado da Casa Comum: meio ambiente-natureza, a promoção da Justiça e da Paz, o diálogo com a sociedade e as culturas, entre outros. Nosso apostolado e missão, abertos aos novos sopros do Espírito, continue colaborando na promoção de muitas vocações para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna, solidária, inclusiva e acolhedora, como reflexo da presença do Reino no meio de nós.

Recentemente (setembro de 2019), a Igreja do Brasil realizou o 4º. Congresso Nacional da Vocacional, buscando refletir sobre o tema das vocações em nossa realidade eclesial e situar as vocações na pastoral de conjunto da Igreja. A Igreja entende que os novos contextos sócio-eclesiais exigem ousadia na apresentação de propostas vocacionais e a promoção, com urgência, de uma cultura vocacional. O Congresso Vocacional buscou provocar a necessidade de se refletir sobre o sentido último da vida, sobre a necessidade da oração em prol das vocações e acima de tudo expandir o tema vocacional para todos os âmbitos eclesiais e sociais, principalmente sobre a arte do discernimento vocacional tão urgente e necessário no apostolado da Igreja.

Que o Espírito Santo torne fecundo o trabalho vocacional e formativo de nossa Província e ilumine a nova geração de consagrados e consagradas para que colaborem, através da mística e da profecia, para que as pessoas experimentem o amor de Deus e a vida em plenitude pela qual Jesus Cristo entregou sua vida.

 

Frei Márcio Antonio Vidal de Negreiros - OSA

5 nov
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